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Sentir-se perdido.
Após eu terminar o ensino médio, me deparei com aquela pergunta que todos fazem a si mesmos. “E agora?”.
O que eu não contava era que nessa época as coisas começariam a desmoronar.
Eu já havia perdido contato com a maioria dos meus amigos, estava fazendo uma faculdade que eu não sabia se era o que eu realmente queria e estava em um relacionamento ruim.
Em momentos como este, é comum que olhemos para trás, e pouca coisa, ou nada faça sentido.
Consequentemente, nós acabamos tentando anestesiar a nossa consciencia com comida, bebida, jogos, pornografia, na tentativa de diminuir um pouco a dor da culpa, desse arrependimento que temos, de não estar direcionando nossa vida pelo caminho que um dia nós sonhavamos ter quando eramos crianças, ou adolescentes com nossos amigos na escola. Ou seja, nós estamos perdidos, e não estamos contando a história da nossa vida como queríamos.
Alguns chamam isso de liberdade, mas não passa de uma liberdade falsa. Onde preenchemos nossa vida com estímulos cada vez maiores, achando que estamos usufruindo do melhor que a vida tem a oferecer. Mas esses estímulos não passam de uma tentativa do ser humano, de preencher um vazio.
Eu gostava de pensar que a vida se movimentava a todo momento para testar minha vontade.
E a cada movimento que a vida fazia, era uma oportunidade nova de reforçar essa desordem que já existia dentro de mim, ou aos poucos, promover uma ordem interna, através da sinceridade, da fortaleza, e do sacrifício por algo mais elevado do que um mero desejo de satisfação momentânea.
Nessa fase, eu tinha a sensação de que estava em um bairro que eu não conhecia, e que eu precisava chegar a algum lugar. Porém, tudo à minha volta estava completamente tomado pela névoa, Eu não reconhecia os caminhos pelos quais eu percorria, as placas e nem as casas.
No meio dessa confusão eu percebi que era sensato que eu não deveria simplesmente ficar parado ali, mas tomar uma direção e caminhar até tentar me localizar.
Então eu comecei a caminhar, ou seja, no meu dia a dia, passei a ter um ato de amor com alguém, um ato de prudência com uma decisão, um ato de temperança com algum prazer, até o ponto que essa névoa começou a diminuir. E me dei conta onde eu estava, e que esse lugar, é o lado oposto de onde desejaria chegar. Esse momento, interpretado por alguns como uma frustração, foi uma verdadeira conquista para mim. Pois por mais que eu estivesse longe de onde eu gostaria de chegar, agora eu sabia por onde não deve ir se quiser chegar lá.
Em momentos como este, quando se está perdido, não importa quanto potencial você tenha para fazer coisas grandiosas, se elas não estiverem empregadas em um ATO.
Pois o que gera movimento em nossa vida, é justamente o alinhamento entre o potencial e a ação. Ou seja, é importante que você saiba quais são seus potenciais, mas que ele seja colocado em prática. Eu não falo de coisas grandiosas, estou falando de pequenos potenciais escondidos que talvez você não tenha explorado ainda, e que podem ser usados para que você comece a ter mais ação no seu dia a dia.
Esse é um dos poderes que o ato tem em nossa vida. Ele nos ajuda a começar a identificar certos caminhos. O que faz sentido ou não para nós, as direções que devemos seguir, ou evitar.
É impossível superar a sensação de estar perdido, sem ação, e sem saber qual será o seu destino. E não basta que alguém te entregue um plano de vida pronto, com um propósito de vida incluso e diga: está aqui, vai lá.
É NECESSÁRIO QUE VOCÊ ESTABELEÇA ESSA DIREÇÃO E CONSTRUA ESSE PROPÓSITO.
Talvez você esteja passando por tudo isso. Mas eu gostaria que você parasse por um momento, e perguntasse a si mesmo. “Quem você deseja ser até o fim da sua vida”. Eu não estou falando em quem você se tornou, ou quantas coisas valiosas você acumulou, estou falando da sua imagem como ser humano.
Ao definir quem você deseja se tornar, até o final da sua vida, você não pode esperar que as circunstâncias sejam favoráveis. Ou seja, até você chegar a esse destino, você vai precisar ir mudando de rota.
Testando caminhos diferentes. Em certos momentos indo mais rápido, em outros mais devagar, às vezes parando por um momento, e por aí vai.
Nesse processo é necessário que a nossa paciência, e esperança repousam no ato. Ou seja, ao começar a caminhar, assuma as responsabilidades necessárias, e cumpra com elas todos os dias. Até mesmo naqueles dias que você vai precisar parar um pouco.
Esse drama vivido por nós, é um elemento fundamental da nossa narrativa. Por isso a nossa vida deve ter como um dos princípios edificadores, O RECOMEÇO.
Ou seja, deixe o orgulho de lado, e recomece, quantas vezes forem necessárias. Não tenha pressa de conquistar o que você deseja, até ter a responsabilidade, maturidade e força necessária para manter essas conquistas com você.
Se sentir perdido, não tem a ver o quão desacompanhado você está do mundo e das pessoas, mas quanto você está desacompanhado de si mesmo.
Encontrar a si, é ir até onde você está sendo convocado, é ir até o local que as pessoas precisam de você, e em meio às estas idas e vindas, ao final da vida temos a oportunidade de chegar em casa, e saber que cumprimos com o nosso papel.




Minhas primeiras impressões após ler "Crime e castigo".
É importante salientar desde o início, que este artigo não se trata de uma resenha, mas as minhas primeiras impressões após ler “Crime e castigo” de Fiódor Dostoiévski.
Tendo em vista a dimensão de uma obra como essa, e que consequentemente, leva-se um tempo até digeri-la, seria árduo, para não dizer impulsivo da minha parte, escrever uma resenha logo de cara. Por este motivo, decidi compartilhar primeiro minhas impressões (juntamente com algumas dicas), para futuramente me dedicar a uma resenha.
Conversando com outras pessoas que também já leram a obra, ouvi o mesmo. Na qual a maioria precisou de um tempo até digerir o que havia lido, se é que podemos dizer assim.
De início, uma sugestão que posso dar, e que foi de grande valia para mim, é ter uma visão mínima sobre o conteúdo da obra, bem como no que ficar mais atento, para se extrair o máximo. E para isso, temos bons professores e profissionais que trabalham com a literatura, que podem nos ajudar a ter essa visão, sem comprometer a experiência com spoiler.
Um grande exemplo disso, é o próprio Raul Martins. Assisti a sua aula de Crime e castigo, e de longe, foram um dos materiais complementares que mais me ajudaram ao longo do processo, e deixo aqui minha recomendação.
Outro ponto importante, é que se trata de uma obra densa, que pode assustar no começo, mas não fiquem apavorados. A escrita e estilo de Dostoiévski é de uma grandeza tamanha, que te transporta para a obra, e a torna extremamente fluida.
Este é um ponto chave, pois no início da obra, somos praticamente jogados dentro de um pesadelo, e sem muitas explicações. Se tratando de uma trama como a de Crime e castigo, Dostoievski trabalha muito bem a atmosfera de culpa e pesadelo vivenciado pelo nosso protagonista Raskólnikov.
Logo de imediato, percebemos que algo está errado, e existe uma espécie de inquietação do protagonista logo nas primeiras páginas. Após algumas descrições, podemos ter uma desconfiança de que se trata de um desespero, quanto a própria situação que o mesmo se encontra, em um ambiente tomado pela miséria, e que Dostoiévski trabalha de forma magistral, e atinge seu ápice (na minha humilde opinião), no momento em que Raskólnikov leva Marmeladov para casa após um acidente.
Mas logo percebemos que não é exatamente isso. É uma ideia, um pensamento, algo que vai pouco a pouco tomando proporções cada vez maiores na psique do protagonista, e que em certos momentos, nem acredita direito no que está pensando em fazer. Até a hora do grande ato. E aqui, precisamos deixar a modéstia de lado, e exaltar mais uma vez, a habilidade que o autor tem, de nos transferir para a obra, que em meio a esta atmosfera de um pesadelo frenético, nos coloca com um machado na mão, olhando para o corpo no chão, e sem acreditar no que acabara de acontecer. Esta é a sensação.
Agora somos nós lá. E a culpa, que estivera com Rodion desde o início, agora está conosco também. Nos obrigando a pensar não só numa fuga das autoridades, mas na própria fuga moral, para não ter de lidar com o crime.
Paralelamente a isso, é quase como se Dostoiévski incutisse em nossa mente, uma voz. Uma voz que traz a luz, questionamentos acerca do próprio sentimento de culpa, a miséria, a fé, etc.
A partir disso, somos apresentados a personagens fantásticos. Cada um com seu drama, particularidade, característica… E ao mesmo tempo, unidos por este crime, que afetam todos, em maior ou menor medida.
A partir daqui, deixo com os senhores.
Alguns pontos que valem a pena uma releitura, ou pelo menos uma leitura mais lenta, é justamente na descrição dos ambiente, pois o ambiente possui um papel fundamental.
Um exemplo, é o próprio quarto de Raskolnikov, que hora é comparado a um caixão, e em muito tem a contribuir para a psicologia do personagem, e na própria atmosfera dos diálogos. Marcados por uma tensão, como se a qualquer momento algo fosse sair dos planos do protagonista.
Além disso, uma personagem que vale a nossa atenção, é Sonia, a “heroína” desta narrativa. Que no primeiro momento nos cativa com sua inocência, mas aos poucos demonstra o tamanho de sua alma, e consequentemente, sua fé, ponto chave para o nosso querido protagonista.
Acredito que nestas poucas linhas, eu tenha oferecido o mínimo sobre a obra, sem estragar a experiência de vocês com eventuais spoilers. Alerto os senhores novamente sobre a importância do complemento da obra com críticas de professores e mesmo, de outros autores, a fim de não apenas obter mais clareza acerca do livro, como também um aprofundamento em temáticas presentes na obra, que são muitas.
Aqui me despeço dos senhores, e retornarei para uma eventual resenha.
Boa leitura a todos.